terça-feira, 22 de julho de 2014

Inspirados

Então, respire novos ares.
Nesse ambiente fechado
Todo o estoque de oxigênio foi inspirado
(e inspiração)
E só resta gás carbônico, expirado.
Antes disso, aqui pegou fogo
E, de tudo que foi quisto,
Pensado e falado,
Restaram cinzas.
Saiamos dessa redoma
Antes que nos sufoquemos.
E nos espalhemos como o ar se espalha
E preenche e ocupa qualquer espaço.
Moléculas confundir-se-ão,
Herança de uma história
Que mal chegou a acontecer.
A pior parte, densa, cairá por terra
E a melhor dançará no vento
Outros farão parte do testamento
E esses átomos sobreviverão
Em outros corações, inspirados.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Despoeta

Crer nas mais doces palavras
Como se a mentira não fosse parte deste mundo.
Detentor de todo o poder do que tudo "viria-a-ser".
Deu preferência a levar até onde já não podia.
Dá direito ao que é melancólico.
Dá direito à má palavra.
De púrpura reluzente, o grau desce, a se tornar cinza e preto e branco.
Da solidão foi a um encontro desencontrado e distraído.
Vaga sem rumo. A um, nenhum significado.
Como preferisse mudar do vinho para a água.
Desfazer o que foi feito. Apagar o que foi escrito.
Quebrar toda a base que servia de apoio. Desencantar o conto.
Afinar o coração em dó.
Engatar a marcha à ré.
Em mim, em si, a desilusão não cabe.
Faz, tanto faz.
Se o sol brilha ou se a lua é eclipsada ou quantas luas se vê em Júpiter.
Lá também não mora o amor. Lá se perdeu uma canção cuja herança é apenas a lembrança do som.
Em si, não foi cantado como devia. Não foi escrito em partitura.
Chico Buarque nos deixou como herança, e ele não haverá de se perder.
De tudo, fazer poesia,
Incansável exercício de pedalar
E manter-se em movimento para não cair.
E, se parar, pôr o pé no chão.
E não mais poetizar.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pétala

Que não pouse, a noite, como um pássaro perdido e sem direção.
Cada palavra dita pode ser a última a selar esse encontro
A quebrar o encanto
A perder-se no meio do caminho.
Caminho não trilhado, mas que, cuja estrada feita,
Haveria de trazer a mocidade
A boa idade
Do coração
A ser como uma bússola que não aponta para o norte
Mas que acerta na sorte
Na sorte e na esperança
De não ver seus dedos novamente se entrelaçando
E o coração fechado
Escondendo tão bem a chave
Como se estivesse perdida.
Mas não: que não se perca, já que não se acaba.
Não esconda-a tão bem
Pois talvez alguém
Canse de esperar tua procura
Nessa sala escura
Que a vela ilumine e aqueça
Coração tão frio como sua cabeça
Mas não esqueça
Do conforto apreensivo


Raynnara Uchoa Magalhães

sexta-feira, 4 de abril de 2014

"Conheser"

Quanto custa a liberdade que anseio? Coisa mais incompleta e indefinida...
Meu livro cheio de palavras que são só sentimentos e não ações.
Páginas em branco, desprovidas de sentido.
A pena que perdi, o tinteiro que secou...
Só sei da necessidade de escrever pra poder respirar.
Seja o meu sangue a tinta a marcar o papel,
Faça a minha costela as vezes de uma pena a desenhar neologismos
E um novo dicionário da língua portuguesa,
E que Deus faça dessa costela a companheira fiel de uma pseudo-escritora,
A imaginação, inspiração necessária ao ato de escrever.
Sejam os livros as árvores do meu jardim do paraíso

E que não seja pecado original obter conhecimento.

domingo, 30 de março de 2014

O segundo ato.

A Ray é a mesma, a mania de não ler nem corrigir os textos é a mesma, mas pode ter mudado algo com o tal processo de "amaduressência". Espero que sim. Talvez tenha apenas deixado a carcaça de "homo sapiens" e ter ganhado asinhas. O coração ficou menor e concentrou mais o peso. Um difícil equilíbrio almejado...
Olá passarinhos! Dialoguemos enquanto migramos para terrinhas desconhecidas. Que a viagem seja enriquecedora ou que sirva, ao menos, pra passar o tempo. Que seja um voo leve e o forte o suficiente para carregar esse coração, concentrado de medo, mas também de amor. Que dê, ao menos, coragem à passarinha que sonha em lançar livros e que não o fez ainda por ter a estúpida mania de rasgar as palavras.
Que asinhas deem mais liberdade, ainda que seja pra cantar, num dia, como rouxinol e, no outro, como um bem-te-vi. Que escrever, assim como amar, faça parte do cotidiano sem cair na rotina.

Voemos.